História

A HISTÓRIA DE TREZE DE MAIO 

RESUMO

O sul de Santa Catarina é muito conhecido pela grande leva de imigrantes europeus que por aqui aportaram, principalmente de alemães e italianos que, fugidos de uma Europa em crise, rumam para o que pensaram que era a terra prometida. Aqui chegando, os imigrantes foram recepcionados e obrigados a passar por várias situações que nunca dantes tinham sonhado. Os italianos, após desembarcarem em Florianópolis, rumavam para Laguna e por fim Azambuja, de onde se espalharam em diversos vilarejos. Um deles se tornaria mais adiante o município de Treze de Maio.

INTRODUÇÃO

Pedras Grandes é a “Pequena Itália”, Urussanga tem orgulho de sua “Festa do vinho”, e muitos outros municípios da região sul de Santa Catarina ainda preservam uma rica tradição herdada de seus antepassados italianos. Isso se deve ao orgulho deles terem sobrevivido à tantas intempéries, tanto naturais quando do governo, que na chegada dos imigrantes os colocaram para dormir junto com as mulas e de os obrigarem a abrir enormes clareiras numa floresta densa, somente usando o machado e rústicas serras para árvores.

O que nos tempos de hoje seria uma loucura foi vivenciada por um povo que saiu, quase que fugido, de uma Itália falida, e que oferecia uma nova oportunidade de vida no Novo Continente. Vendido o que tinham, aqui chegaram com minguados bens e muita vontade de vencer, e após receberem suas terras do governo, à cultivavam e assim começou a serem criadas as primeiras vilas.

Uma das mais importantes vilas era Azambuja, que servia de corredor para quem ia para Urussanga, outro grande pólo receptor de imigrantes italianos. De Azambuja, subindo pelo Rio Cintra foi criado um núcleo que seria conhecido como Quadro, devido à sua forma de demarcação de terras. Este mesmo Quadro hoje é o centro de Treze de Maio, que assim como os municípios vizinhos, guarda nas tradições sua origem do norte da Itália.

A ITÁLIA

A Europa de 1850 a 1870 se transformou muito rapidamente do ciclo agrário para uma economia ligada ao ciclo industrial. Neste período, os índices de desenvolvimento avançaram muito.

A produção industrial, o comércio internacional, e o próprio crescimento agrícola alcançaram níveis até então inesperados […] O capitalismo precisava de outras áreas que fornecessem matéria-prima, ao mesmo tempo que comercializava sEus produtos. Para isso necessitava deslocar o excesso de mão-de-obra agrícola, na fase de modernas transformações, para onde se tornaria produtiva e ao mesmo tempo um mercado consumidor (VITTORETTI, 1992, p. 252).

Entre 1840 e 1870, acontecia na Itália as últimas etapas da Unificação Italiana, e a população camponesa participou com sua cota de sacrifícios, principalmente no norte da Península, que fora o principal palco das guerras de domínio das potências da época (Áustria e França). O custo dessa unificação e reconstrução foi alto e uma crise social no campo deu início à Grande Emigração.

A sociedade camponesa do Norte da Itália estava radicada à terra que era vista como único meio de sobrevivência, mas a agricultura era pobre, mal preparada e não conseguia suprir as suas necessidades. Por isso, os adultos aptos se deslocavam para outras regiões da Itália ou outros países europeus para reforçar o minguado orçamento familiar. A moral e a ética camponesa era a moral da Igreja Católica.

De acordo com Vittoretti (1992, p. 255), a América significava muita terra, onde pudessem cultivar sem o patrão, explorador do seu trabalho e a vida na angustiante pobreza. Para lá se apontava a fortuna, a riqueza e a independência. A febre da emigração se alastrou por todos os recantos e cabanas do norte da Itália. Mas para que este êxito acontecesse de forma tão abrangente e impetuosa, houve a contribuição de outro fator: a lei nº 3784 de 1867, dando garantia aos colonos, abrindo novos horizontes para o ingresso de imigrantes no Brasil.

Reunidos em pequenas famílias defronte à igreja para a dolorosa separação dos parentes e amigos que ficavam, os emigrantes recebiam as bênçãos do padre. Levados até a estação por conduções de tração animal, onde o trem os conduziria até o porto.

No barco de terceira, amontoados, rigorosamente separados homens de mulheres e uma lotação de 800 pessoas onde só caberiam 500 eram enviados para Florianópolis e dali para Laguna.

A CHEGADA EM TERRAS CATARINENSES

Em abril de 1877 chegaram os primeiros imigrantes ao porto de Laguna, de onde subiram o Rio Tubarão com barcos movidos a remo ou puxados por cordas. Ao chegarem em terras brasileiras, foram abrigados num barracão usado pelos tropeiros para guardar arreios, bruacas e mulas. Eles haviam vendido seus minguados bens e o pouco apurado tinham gasto na viagem. Sentiam a sensação do desamparo e do abandono em plena floresta que só imaginavam nas fábulas infantis. Não era essa a imagem que havia se formado com as propagandas na Europa, sentiram-se logrados pelas mentiras, e não havendo outra alternativa, obedeceram e puseram-se ao trabalho por um motivo maior: a sobrevivência.

Em 1877, e engenheiro Joaquim Vieira Ferreira, com sua família, instalou-se às margens do Pedras Grandes, a fim de dirigir o povoamento das cabeceiras do Rio Tubarão com imigrantes italianos, fundando-se, com a chegada, a 28 de abril daquele ano, dos 291 imigrantes, oriundos de Treviso, Verona e Mantua, a Colônia de Azambuja (CABRAL, 1970, P.239).

Vendo-se em pequena clareira, no meio da mata virgem, os colonos revoltam-se, alegando terem imigrado para cultivar terras e não para cortar árvores e derrubar florestas.

De acordo com SACHET (1997, p.125), no primeiro semestre, cada adulto pôde trabalhar quinze dias por mês nas atividades comunitárias, como a construção de estradas, recebendo 11 mil réis, ou seja, onze liras, a metade do que recebia por mês de trabalho, quando ainda na Itália.

Quando marcaram os lotes rurais, também se traçou o centro urbano de Azambuja. Aquele local era privilegiado, pois era passagem obrigatória para os imigrantes chegarem na colônia de Urussanga e seus núcleos (Treze de Maio era um deles), e também próximo da estação de trem de Pedras Grandes. O local se tornou um pequeno centro comercial que abastecia e intermediava os colonos.

Como centro da colônia, teve seu auge em 1900, quando foi elevada à categoria de Distrito de Paz, incluindo o núcleo Treze de Maio. Com o passar dos anos, as rotas forma se alterando. Urussanga abre caminho direto para a Estação de Pindotiba, Treze de Maio cortas estradas para Tubarão, e Azambuja, aos poços foi se isolando, cedendo lugar de destaque a Pedras Grandes, servida por Via Férrea e passagem da secular Estrada dos Tropeiros, iniciada em 1773.

DE QUADRO A TREZE DE MAIO

De acordo com Vettoreti (1992, p. 287), o município de Treze de Maio, antes denominado Núcleo Presidente Rocha, estabeleceu-se como um prolongamento do município de Azambuja e foi demarcado pelo engenheiro Francisco Ferreira Pontes, representante da Comissão de Terras e Colonização, em 1887. Esta Comissão era o órgão encarregado de medir e demarcar lotes rurais, receber os imigrantes e assentá-los em seus lotes, dando-lhes assistência nos primeiros meses. O nome do povoamento foi dado em homenagem ao então presidente da Província de Santa Catarina (1885 a 1888), Francisco José da Rocha.

Treze de Maio era denominação do núcleo da Colônia de Azambuja. O quadro era uma pequena área de terra reservada pela diretoria de Terras e Colonização encravada no limite leste do núcleo. Os imigrantes entraram neste núcleo por Azambuja, subindo pela estrada que acompanhava o Rio Cintra. Começaram a povoar o núcleo, ocupando lotes rurais, previamente demarcados para recebê-los. O Rio Coruja, hoje Santa Cruz, era a principal passagem desses imigrantes que não se aglomeraram, espalhando-se nas diversas linhas (VETTORETTI, 1992, p.287).

Entrando pelo município de Azambuja, os imigrantes italianos foram distribuídos em linhas (estradas) de colonização, onde eram distribuídos os lotes. O rio Coruja, atualmente denominado Santa Cruz era a principal via de acesso a estes lotes. Os italianos Giovani Bonelli e Luigi Formentin lideraram, em 1892, a construção da primeira capela do povoado e por isso, são considerados os fundadores de Treze de Maio.

O nome do município associa-se à libertação dos escravos, mas não havia famílias descendentes de escravos na época da colonização do município e os próprios habitantes não sabiam dizer o porquê da denominação “Treze de Maio”, que também era conhecido como “Quadro”.

Mas em 2008, o Ministério Público Federal abriu um procedimento para identificar o reconhecimento de comunidades quilombolas e foi quando a verdade sobre a denominação Treze de Maio foi esclarecida.

O Ministério Público Federal em Santa Catarina instaurou procedimento administrativo para identificar e atuar no reconhecimento de comunidades remanescentes de escravos (quilombolas) nos municípios do sul do estado, mais especificamente na área abrangida pela Associação dos Municípios da Região de Laguna (Amurel) (ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO MPF, 2008).

O texto do MPF também destaca o motivo da não permanência destes libertos em áreas trezemaienses: “No município de Treze de Maio, nome alusivo à data da abolição da escravatura, em 1914, o estado desapropriou terras que deveriam ser dos quilombolas. Porém, os negros foram posteriormente expulsos pelos imigrantes italianos” (ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO MPF, 2008).  Em 2013, os descendentes destes quilombolas, mais precisamente os remanescentes da Família Thomaz, entraram com um requerimento para reaverem uma área de 30,861 ha, justamente aquela que foi doada pelo Estado em 1914.

A emancipação do município se deu através da Lei n. 803, em 20 de dezembro de 1961. O desenvolvimento econômico do município de Treze de Maio está associado, principalmente, ao setor primário, ligado à agropecuária, destacando-se a produção de arroz, fumo, mandioca, batata, maracujá, milho, feijão, extração de madeira de eucalipto, gado leiteiro e aviários. Destacam-se também as facções têxteis, indústrias de beneficiamento de mandioca e leite, cerâmica, artefatos de cimento e indústrias de embalagens plásticas, que ocupam a maior parte dos trabalhadores deste setor.

REFERÊNCIAS

CABRAL, Oswald R. História de Santa Catarina. Florianópolis: Laudes, 1970.

FONTANA, Germano B. História da Minha Vida: memória, imigrações e outros fatos. Florianópolis: Agnus, 1998.

SACHET, Sérgio. Santa Catarina: 100 anos de história. Florianópolis: Século Catarinense, 1997.

VETTORETTI, Amadio. História de Tubarão: das origens ao século XX. Tubarão: Incopel, 1992.

 

Pesquisa/texto: Jaison Bez Fontana